quinta-feira, 14 de julho de 2011

Incompreendido


Como se o mundo acabasse,
Como na tua pele nocturna,
Como se abrisse os olhos e sonhasse,
Como arder e não morrer,
Como dizer sem falar,
Como o viver a parar,
Como um sorriso sem par.

É como se o fosse,
mas nada disto
é nascer uma estrela do teu olhar.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Sim crónico


Eu parto porque o tempo me alcança.
O tempo é curto e a vida é escassa,
mesmo que longa,se o tempo passa.
Nunca chega,
o tempo nunca é demais.
A vida para viver é muita,
nunca está só onde tu vais,
nunca vem de onde tu vens.
Sempre á frente,
sempre diferente,
sempre feito de muita gente,
sempre terminado,de repente.
Eu parto porque vivo na esperança,
de que o curto tempo que passa,
torne a vida breve como o eterno
sopro vivo que a abraça.
Porque o tempo passa e avança,
louco,são,perseverança,
espero que pare para mim,
quando nada mais houver para ver.
Pára nunca,
e nunca pára.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Natureza morta



Corre-te o sangue
E gelam veias
No ser estanque,
Pelas teias
Do querer
E não querer.

Verga o medo,
Verga cedo
E volta á vida.
Deixa a dor
Para depois,
Deixa o terror
Para depois.

Ceifa a vida,
Seiva ida
De repente.

Salva o momento,
Evidente
Que invento,
Previdente,
Sabendo
Que o sangue é meu.
Quebra o gelo,
Contundente,
Que me aquece,
Desesperadamente,
Morrendo
Na terra de que nascemos,
Tu e eu.

Respira,
Pesadamente,
E suspira,
Definitivamente.

sábado, 23 de agosto de 2008

Debaixo do céu


Ao pôr-do-sol ceguei,
ao som do vento.
De teu olhar me separei,
a fogo lento.
Vi-te o céu e vi-te o seio,
trespassei-te pelo meio,
segui em frente sem freio,
flôr da minha vida.
Deixei que a nossa guerra
se travasse, dorida
dor de ser sofrida,
sem um caír de estrela.
Dorido ser
pela dôr de ter
e não mais ver
escondi-me frágil
em meu castelo.
No medo fácil
de sê-lo
e sê-lo só,
julguei-me seguro
atrás da artilharia.
Idiota puro,
mal sabia
que sem te amar
regressaria ao pó.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Fomos soldados


Porque envelheço
E não me esqueço,
Pago o preço
De envelhecer
Num qualquer lugar.
Envelheço sem pensar
Sequer em parar
Por aqui,
E deixar para ti
As questões dos meus dias.

Lutei por ser,
Luto por sorrir,
E sorrio ao ver
Que lutarás por mim
Quando morrer.
Cerro assim
O punho,
E não passo
O testemunho.
Tê-lo-ás, votos faço,
Com as feridas
De cem vidas,
Que esta vida nos traz.
Mas no final sofreste, sagaz,
Para ter tudo o que te apraz.

Porque envelheço
E não me esqueço,
Ignoro o preço
De envelhecer
Sem poder parar.
Envelheço por pensar
Que posso parar
Por aqui
E deixar para ti
As questões dos meus dias
E as páginas vazias
Que tens para escrever.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Março de '84


Difunde-se profundo,
Segue seguro,
Este nevoeiro dos tempos.
Cinzento sem vento,
Frio no momento,
Perpétuo movimento.

Explode e implode,
O turbilhão de fumo,
Numa passa sem graça.
No trovão sem rumo,
Cai na desgraça,
De um cinzento eterno.

Deste Março nascido,
De primaveras movido,
Me espanto, sem encanto.
Saí para um cigarro,
Queimar o tempo
A que me agarro.

Se o tempo me foge,
E os trovões me perseguem,
Deixo que o fumo me aloje,
Que os fogos me alberguem.
Este fogo inglês é meu,
E velho como eu.
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Finalmente, as imagens falam de si.